Goiânia, a cidade que nasceu sob o símbolo da modernidade e do desenvolvimento completa 90 anos. Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás diversas iniciativas dos deputados beneficiam a população da Capital.
Fruto de um projeto político local em consonância com o programa de expansão territorial do governo federal, Goiânia nasceu sob o símbolo da modernidade e do desenvolvimento. Desde a escolha pela construção de uma nova cidade, do arquiteto para projetar o traçado urbanístico e o estilo arquitetônico dos prédios, tudo deveria ser para contrapor ao tradicionalismo, o atraso e à insalubridade da cidade de Goiás. Nestas nove décadas passadas desde a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933, a modernidade projetada se perdeu e Goiânia se tornou mais uma grande metrópole brasileira. Mas ainda assim, apaixonante, tanto que quem aqui chega, dificilmente vai embora. Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) diversas iniciativas dos deputados beneficiam a população da Capital.
História
Do alto dos seus noventa anos, Goiânia mais parece uma adolescente cheia de conflitos e dúvidas. É a capital do sertanejo, mas realiza grandes festivais de rock, que atraem pessoas de todo o País. Tem o maior acervo arquitetônico do estilo Art Déco do Brasil e um dos maiores do mundo, mas enquanto os prédios históricos estão deteriorados pelo tempo e pela falta de conservação, espigões gigantes, de arquitetura arrojada sobem numa velocidade assustadora, pintando o céu e mudando a paisagem urbana. As avenidas largas do Centro, projetadas a pedido de Pedro Ludovico Teixeira, como mais uma demonstração da grandiosidade e modernidade da nova capital se contrapõem às vielas, becos e ruas estreitas de bairros surgidos mais tarde, frutos de loteamentos irregulares e de ocupações por movimentos de sem-teto.
A jovenzinha quase centenária é mesmo pura contradição. Não era para ser assim. Na intenção de Pedro Ludovico Teixeira, médico e político responsável pela construção de Goiânia, a nova capital do Estado, era para ser uma cidade planejada, com um projeto moderno para a época, feito por um arquiteto que se inspirava no francês Le Corbusier, um dos mais importantes daquele momento. A cidade teria áreas definidas para as instituições públicas, as indústrias, as universidades e toda a área urbana seria envolta em um cinturão verde. Enfim, uma urbe arquitetada para ser organizada, com qualidade de vida para a população e, acima de tudo, com ares de modernidade.
Mas porque Pedro Ludovico queria uma nova capital? Por que não investir para promover o desenvolvimento na cidade que já era o centro político e administrativo do Estado? Por que se aventurar na construção de uma nova cidade, em plena década de 1930, no interior do Brasil, com todas as limitações que a época e a região impunham?
A explicação é política. E para entender é preciso retroceder um pouco na história. O professor e historiador Nars Chaul explica que a partir de 1913, com a chegada dos trilhos da estrada de ferro à Catalão, as regiões Sul e Sudoeste do Estado experimentaram um grande surto de desenvolvimento socioeconômico e financeiro, mas ao mesmo tempo, a participação política dos grupos dessa região não crescia na mesma proporção. “Eles esbarravam num processo de época coronelística, de alta centralização de poder, em que as atividades políticas estavam altamente efetivadas num sistema de tripé, que era os Caiado, na cidade de Goiás, os Ayres, em Porto Nacional e a família do Hermenegildo Lopes de Morais, em Morrinhos. E não tinha uma abertura fora desse tripé para a participação política”.
Com a eclosão da Revolução de 1930 e a tomada do poder por Getúlio Vargas, grupos dominantes do Sul e Sudoeste aderiram ao movimento e elegeram Pedro Ludovico Teixeira como representante.
Chaul chama a atenção para o fato de que os integrantes dessa ala, apesar de serem homens ligados à terra, tinham ideias e mentalidades diferentes do pensamento comum dominante na Primeira República. Pedro Ludovico encarna esse novo modelo. “Um médico, humanista, formado no Rio (de Janeiro), falava francês fluente, tinha uma visão de mundo diferenciada e passou então a representar esses anseios do Sul e do Sudoeste de Goiás”, pontua o professor.
Nomeado interventor do Estado por Getúlio Vargas, Pedro Ludovico tinha pouca projeção, mesmo regionalmente. Além disso, apesar de ser o novo líder político do Estado, a cidade de Goiás ainda tinha grande domínio do poder deposto, representado pela família Caiado.
Para o historiador, a retomada da ideia da transferência da capital do estado, já manifestada por outros governadores de província, nos séculos XVIII e XIX, foi a bandeira usada pelo interventor para se firmar como liderança política.
Mas a intenção ludoviquista encontrou muita resistência, obviamente entre os oposicionistas, mas até mesmo entre os próprios apoiadores. Compreensível. A perda do status de capital do estado levaria a cidade de Goiás ao ostracismo, conforme foi confirmado após a transferência. “Você tem que lembrar que a estrutura política e a estrutura social da época estão todas calcadas na cidade de Goiás. Os familiares dos deputados que vão apoiar Pedro Ludovico, os amigos, a tradição de pertencimento à eterna Vila Boa, tudo isso vai dificultar”, diz o professor.
Para justificar a mudança, que enfrentava resistências tão radicais, o político usava diversos argumentos, mas especialmente, a falta de condições de desenvolvimento da antiga Vila Boa. Ludovico e os defensores da transferência alegavam que a geografia da cidade, encravada no vale do Rio Vermelho, era um dos entraves para a expansão demográfica e econômica do município.
Além disso, razões sanitárias, calcadas na experiência de médico de Pedro, fundamentam essa argumentação. “Ele usa toda uma alegação com base na medicina que ele bem conhecia para tratar a cidade de Goiás. (…) Ele joga todo seu saber médico sobre a cidade (…). Eram argumentos que encontravam ressonância dentro do processo histórico, das debilidades estruturais e espaciais, geograficamente falando, da cidade de Goiás, que realmente era uma cidade de 1722, com dificuldades de toda ordem, com relação à água, com dificuldade de crescimento. E com dificuldade também de fazer jus ao processo que vinha se desenvolvendo desde 1913 com esse crescimento das regiões goianas”, analisa Chaul.
Apesar das resistências, Ludovico levou adiante o ideal de tirar a sede político-administrativa da cidade de Goiás. Mas erguer um município do zero por um político desconhecido, em um estado sem nenhuma expressão nacional, só haveria de dar certo com o apoio do governo federal. E os planos de Ludovico iam ao encontro do projeto expansionista da fronteira demográfica e econômica de Getúlio Vargas, cujo objetivo era chegar à Amazônia e, mais tarde, se concretizar na chamada Marcha para o Oeste.
“Passa a ter um interesse recíproco: dos dirigentes que tomam o poder em 30 e do próprio governo federal logo com a Marcha para o Oeste, em 42. Não é coincidência Goiânia ter sido inaugurada em 42. Não há coincidência na história. O governo federal vai investir muito em Goiânia, com apólices”, ensina o historiador.
Para projetar a nova cidade, Pedro Ludovico chamou Attilio Corrêa Lima, um urbanista carioca, respeitado em todo o País, cujas influências da Escola francesa de Le Corbusier, também encarnavam todo o espírito inovador e moderno que Pedro Ludovico queria para Goiânia. Segundo dados pesquisados pelo historiador, cerca de quatro mil operários tiveram que vir de fora, porque não havia uma tradição de construção de prédios no tamanho e na quantidade dos que estavam sendo construídos.
E mesmo com todos obstáculos, com todas as dificuldades, aos poucos a cidade foi sendo erguida. Em 1935, por divergências com Pedro Ludovico, Attilio Corrêa Lima rompeu o contrato e voltou para o Rio de Janeiro.
Outro urbanista de grande projeção nacional, Armando de Godoy, passou a tocar o projeto. Fez algumas modificações, sendo a mais relevante, no setor Sul, onde propõe implantar um bairro jardim, conceito também trazido de fora, que privilegia a convivência entre os moradores em espaços coletivos. Mais um projeto perdido na desordem do crescimento descontrolado e muito acelerado, a partir dos anos 1960.
Nesses 90 anos Goiânia se transformou. A modernidade pretendida pelo idealista Pedro Ludovico foi atropelada por diversos fatores, entre evitáveis e os inevitáveis, como o êxodo rural, que levou verdadeiras turmas de trabalhadores para as cidades, ocupando periferias e outras áreas nem sempre propícias para moradias. Goiânia também sofreu os efeitos dessa onda.
No passar dos dias e das décadas, a capital protagonizou episódios que a destacaram nacional e internacionalmente, como a realização do primeiro comício da campanha Diretas Já, em 1985 e o acidente radiológico com o Césio-137, na mesma década. Outros tantos acontecimentos movimentaram e marcaram a história dessa cidade sonhada e de seu povo.
No alvorecer dos anos 2000, por uma dessas ironias da história, a então preterida cidade de Goiás ganhou projeção internacional ao pleitear e ser agraciada pelo Fundo das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (Unesco) com o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Com a saída da capital, Goiás vira uma estância balneária. Com isso, ela se sedimenta para dentro de si mesma, criando uma redoma. Ela mantém sua natureza belíssima. Ela mantém sua arquitetura, que depois vamos chamar de vernacular, quando vem o título. Ela continua com suas tradições religiosas e culturais. Isso possibilitou, no ano 2000, da cidade se candidatar e se transformar em Patrimônio Mundial. Então, na dialética da história e nas ironias da própria história, ela se torna, internacionalmente, maior que a capital que veio depois”, analisa Nars Chaul, que na época era presidente da Agepel, órgão do governo do Estado, responsável por gerir o setor cultural e que participou ativamente na busca pelo título.
Sim. Goiânia teve o bônus e também o ônus de sediar uma capital. Mas ao chegar aos 90 anos de existência, ainda é mesmo uma adolescente, se comparada a outras capitais do mundo ou mesmo das suas irmãs brasileiras. São Paulo tem 469 anos. Recife, 474. Uma das que mais se aproximam da idade da nossa Goiânia, Belo Horizonte, tem 125 anos de fundação. E como uma adolescente é movida por contradições e crises existenciais, porém com uma beleza única e na iminência de um florescer cheio de possibilidades.
O historiador que vive de estudar o passado se assusta com a Goiânia do presente. Sabe das mazelas, mas com um olhar esperançoso para o futuro, acredita que tudo pode melhorar. E faz um alerta. “Goiânia hoje é um assombro. É uma capital que havia sido edificada para 50 mil habitantes e está praticamente com 2 milhões. Com uma estrutura que não atende o crescimento desordenado que ela teve. Com transporte caótico, ruas caóticas, problemas visíveis de segurança e de miséria. Em contrapartida ela tenta manter sua ideia de modernidade. Ela tenta recuperar o Art Déco (…) A vida cultural é borbulhante, heterogênea e de muito alto nível (…). É uma capital que, se zelar pelo tradicional, o moderno está pronto para fazer parte. Agora é preciso entender e os governantes precisam ter essa visão, de que nada é mais moderno do que manter as tradições. Então esse é o pulo do gato”.
Os deputados e Goiânia
Como capital e cidade mais populosa do estado é natural que a maioria dos deputados estaduais tenham sua base eleitoral e sua origem em Goiânia. Como representantes da capital, eles estão atentos às demandas dos goianienses e têm buscado, por meio da apresentação de projetos de lei e da destinação de emendas parlamentares, além de outras iniciativas, atender às solicitações feitas pelos eleitores ou mesmo se antecipar aos problemas.
O deputado Charles Bento (MDB) destaca a compra do primeiro tomógrafo da rede municipal de saúde de Goiânia. A aquisição foi possível graças a uma emenda parlamentar no valor de R$1.880.000, enviada por Bento. O tomógrafo foi entregue no início de 2020, bem no meio da crise de COVID-19, o que, certamente, ajudou a salvar muitas vidas.
“Em Goiânia eu me criei, cresci ali no Jardim Nova Esperança, e tenho um sentimento de gratidão. Nesses 90 anos desejo que nossa cidade continue sendo referência na área de saúde, que a educação siga o mesmo caminho de excelência, e que a população continue sendo amável, hospitaleira e acolhedora como sempre foi. Parabéns Goiânia”, foi a mensagem deixada por Charles Bento, nesses 90 anos da capital.
Já Virmondes Cruvinel (UB) ressaltou que tem várias leis e ações, como a destinação de emendas, que beneficiam direta ou indiretamente os goianienses, em especial nas áreas de educação, saúde, defesa de direitos e cultura. Segundo ele, os recursos enviados ajudaram a melhorar muitas escolas, muitas unidades de saúde, praças e diversos outros equipamentos.
“Goiânia é o nosso berço. Aqui, aprendemos e vivenciamos histórias que ajudaram a formar nosso caráter e nosso espírito de luta pela coletividade. Em Goiânia, aprendemos a importância do calor humano e da palavra dada. Não existe capital no Brasil que se compare com a nossa. É com muito orgulho que represento Goiânia nestes seus 90 anos”, saudou Cruvinel.
O projeto de lei nº 501/23, que institui em Goiás a Política Estadual de Incentivo ao Investimento na Segurança Pública, que tem como objetivo fomentar a parceria entre as instituições públicas, privadas e organizações da sociedade civil, estimular a modernização e o aprimoramento dos órgãos de segurança pública estaduais, foi a destacada por Lincoln Tejota, como a proposta que vai beneficiar diretamente a capital, além de impactar também o restante do estado.
A matéria também visa incentivar a utilização de tecnologias de ponta para o combate à criminalidade, bem como a capacitação e a valorização dos profissionais de segurança pública. Ele acredita que ao incentivar a cooperação entre diferentes setores, a proposta busca fortalecer a segurança pública em Goiás e melhorar a eficácia das ações de prevenção e combate à criminalidade. Sendo Goiânia a maior cidade do estado e a principal da Região Metropolitana, seria a mais beneficiada, por demandar mais investimentos em segurança pública.
“Tenho muita gratidão por Goiânia, minha cidade natal, por ela ter acolhido minha família, assim como a tantas outras que vieram para cá em busca de oportunidades. Essa população que forma nossa cidade que chega aos 90 anos certamente continuará a preservar suas raízes, embora esteja conectada e a adotar o que há de mais tecnológico. Goiânia é assim, amamos o canto dos carros de boi e vemos surgir em nossas ruas os carros elétricos e empreendimentos imobiliários adequados para recebê-los. Goiânia é assim, a diversidade na história e nos sonhos”. Assim Lincoln Tejota declarou seu amor por Goiânia.
Preocupado com as famílias que passam pela dolorosa experiência da perda gestacional ou neonatal, o deputado Lucas Calil (MDB) apresentou um projeto de lei que estabelece aos hospitais públicos de Goiás a adoção de procedimentos relacionados à humanização do luto materno e parental, criando protocolos que promovam a formação, autocuidado e atualização dos profissionais de saúde nessa difícil fase. A proposta vai atender mães e pais de todo o Estado, entre elas as famílias goianienses, que atravessam um momento tão delicado.
Além dessa matéria, o parlamentar também ressaltou o repasse de mais de R$ 1 milhão de reais de emenda destinadas a Goiânia em diversas áreas, como saúde, educação, esportes e infraestrutura. “Quero parabenizar a amada cidade de Goiânia pelos seus 90 anos de história, crescimento e prosperidade. É um privilégio viver aqui e poder contribuir pelo seu progresso. São mais de 1 milhão de reais em investimento somente aqui. Que nossa capital continue a florescer e a ser um exemplo de desenvolvimento para todo o Estado”, parabenizou Calil.
Três projetos que viraram leis quando foi vereador e mais um, já como deputado, são destacados por Mauro Rubem (PT), como iniciativas suas de grande relevância para Goiânia. São elas: a Lei Complementar n° 345/2021, que cria o programa de hortas comunitárias e compostagem; a Lei n° 10.805/2022, que declara a cultura hip hop como Patrimônio Cultural e Imaterial e veda condutas discriminatórias a seus agentes; a Lei n° 10.856/2022, que estabelece o protocolo de remoções e define regras para realizar desocupações das pessoas de forma humanizada e, por último, a Lei estadual n° 996/23, que concede a Goiânia, o título de capital da Art déco.
Mauro ainda destaca o esforço que todo o Parlamento goiano tem feito em discutir soluções para a região metropolitana de Goiânia, onde a capital tem papel fundamental, concentrando cerca de 1,5 milhão e meio de habitantes, dos mais de 2 milhões que vivem na RMG.
“É uma mensagem de esperança. Que Goiânia volte a ter uma gestão florida, uma gestão que garanta qualidade de vida. Eu já estou na terceira idade, já tenho mais de 60 anos. Então, Goiânia não está conseguindo resolver os problemas de quem está nascendo agora e os que já estão com mais velhos como eu também não tem qualidade de vida. Nossa mensagem é de esperança para poder transformar essa cidade naquele lugar que todos nós sonhamos”, foi o desejo de Mauro Rubem.
Fonte: Agência Assembleia de Notícias